A evolução das espécies mostrou claramente a capacidade de adaptação dos seres vivos. A percepção de que o corpo também se adapta num indivíduo e busca se autocurar fez com que os fisioterapeutas franceses Daniel Grosjean e Patrice Bénini investigassem o corpo humano. Dessa inquietação surgiu a microfisioterapia, no início da década de 1980.
Para eles, o corpo é capaz de se adaptar, defender e corrigir eventos agressores traumáticos, emocionais, tóxicos, microbianos ou ambientais. Porém, quando essas agressões são mais fortes do que as possibilidades de defesa do organismo, haverá uma memorização da agressão que modifica a vitalidade dos tecidos, atrapalhando o funcionamento das células e consequentemente dos órgãos, gerando patologias específicas, sintomas físicos ou emocionais.
A técnica, que não utiliza nenhum equipamento, se baseia em identificar essas “cicatrizes” do corpo, que são marcas das perdas, dificuldades, ausências e rejeições da vida do indivíduo. Grosjean e Bénini desenvolveram mais de 100 mapas com referências no corpo, comparável aos meridianos da acupuntura. “Esses mapas auxiliam o profissional a procurar as portas de entrada desses eventos e o órgão onde essa informação se instalou para que possa ser tratado”, explica a fisioterapeuta Caroline Nery.
Os princípios de cura da microfisioterapia se baseiam na homeopatia. São duas leis: a cura pelo infinitesimal, que é a apalpação mínima e atua com o medicamento diluído, e pela similitude, quando o semelhante ajuda a curar outro semelhante. Os toques, apalpações suaves e precisas da microfisioterapia, informam ao corpo que aquele episódio traumático passou, está superado, estimulando a reação e a autocorreção. “Cada pessoa reage aos eventos de forma diferente. Pode ser briga, bullying, estupro. O corpo pode guardar isso por anos, e o efeito é cumulativo. Dois irmãos, filhos de pais que se separaram, podem apresentar danos em áreas diferentes do corpo. Ou ainda, um pode ter esse dano e o outro não”, detalha.
Essas “memórias” do corpo podem causar diferentes patologias. “É a forma de o corpo dizer que algo não vai bem”, diz. Dores crônicas, alergias, depressões, distúrbio do sono, enxaquecas, ansiedade e hiperatividade são diferentes doenças que podem encontrar nessa técnica uma terapia complementar ao tratamento. “Gestos específicos da técnica vão informar ao corpo que aquilo já passou”, completa.
Alexandra Theilacker testemunhou os benefícios do tratamento em seu filho, Felipe Maciel, de 3 anos. “Ele tinha episódios recorrentes de gripe e otite. Depois de várias tentativas de tratamento e antibióticos constantes, a médica sugeriu cirurgia para inserir um carretel (tubo de ventilação) no ouvido. Não quis fazer e procurei um tratamento homeopático aliado à microfisioterapia. Depois de três sessões, ele nunca mais voltou a apresentar a otite. E percebi uma boa melhora no humor”, comemora.
Caroline explica que são necessários no máximo três sessões de microfisioterapia. “Os pacientes apresentam melhora já depois da primeira. Se depois da segunda não relatarem benefícios, nem faço a terceira. Significa que não está funcionando, mas a maioria sente evolução. É uma faxina do corpo”, pondera.
ALÍVIO Humberto Bicalho, de 43, ganhou muito em qualidade de vida com o tratamento. Ele sofre de epilepsia reflexa. “Toda vez que leio, tenho convulsão. Há anos trato com neurologistas, sem grandes avanços. Submeti-me à microfisioterapia e me senti muito bem. Sai de lá com muito sono. Coincidentemente, tinha um exame marcado para o dia seguinte. As minhas funções cerebrais foram monitoradas enquanto lia. Consegui ler um capítulo inteiro e não tive nada. Saí da clínica igual criança, todo sorridente.”
Ele tinha se submetido ao mesmo exame antes e teve de interromper, pois estava prestes a ter um ataque convulsivo. “Também passei a dormir melhor e perdi muito peso. Os remédios que tomo, receitados pelo neurologista, retêm líquidos. Definitivamente, a microfisioterapia me trouxe muitos benefícios. Não posso usar computador, ler livros, ir a boates ou ao cinema. Depois de anos, consegui assistir a um filme com legendas”, relata Humberto, que vai se submeter à terceira e última sessão.
A técnica, ensinada em cinco módulos, que demandam dois anos de estudos, pode ser aplicada em pessoas de todas as idades. “Não tem contraindicação. Bebês, adultos e idosos podem se submeter ao procedimento”, garante Caroline. Algumas pessoas ficam com muito sono depois das sessões, outras podem ter alguma disfunção intestinal. Mas nada grave. Recomenda-se beber pelo menos dois litros de água por dia nas 48 horas seguintes ao procedimento. “Ajuda a limpar o organismo e a eliminar esses males”, esclarece. As sessões geralmente são espaçadas entre 30 e 60 dias, dependendo da prescrição e do estado individual de cada paciente.
Para que serve?
A microfisioterapia é indicada em casos de:
Por Humberto Siqueira
Reportagem sobre Microfisioterapia no Jornal Estado de Minas